segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Assessor é Jornalista?


A polêmica é antiga, mas sempre aparece: assessor de imprensa é jornalista? Diz a lenda – e os editoriais dos “jornalões” – que a maioria dos representantes da Fenaj e dos sindicatos trabalha como assessor. “Em Minas mais de 60% dos jornalistas sindicalizados não trabalham em veículos. Isso faz um mal terrível ao jornalismo brasileiro. Existe um fosso entre os colegas das redações e do sindicato. Não considero que os assessores de imprensa são jornalistas. As assessorias têm por objetivo vender os assessorados. Infelizmente o Código de Ética não toca nesta questão. É um absurdo admitir que um jornalista trabalhe ao mesmo tempo no Correio Braziliense e no Palácio do Governo. É óbvio que esse cara está, como dizem em Minas, com o rabo amarrado. O jornalista tem que entender que essa não é uma carreira para ficar rico. Jornalismo é sacrifício, sinônimo de pobreza”, afirma, categórico, o comunista mineiro Délio Rocha.

O colombiano Javier Restrepo (foto acima) compartilha desta opinião. Quando questionado sobre esse tema em sua palestra, no Congresso Nacional Extraordinário dos Jornalistas, em Vitória (ES), nos dias 3, 4 e 5 de Agosto, a resposta causou constrangimento na platéia. “Minhas palavras podem parecer um pouco duras. Mas o jornalismo é essencialmente público. Quando o jornalista se coloca a serviço de uma empresa, recorta seu campo de ação e sua dignidade. Se torna um propagandista. E a propaganda, por sua própria natureza, é a visão parcial da realidade”. A reação foi imediata. A fala de Restrepo foi interrompida por gritos do público. Com microfone na mão, alguém sapecou: “Quem trabalha em redação recebe ordens de uma editoria. Dá na mesma”. Diante do clima pesado, a mediadora do debate, Suzana Tatagiba, anfitriã do evento e presidente do Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo, tentou contornar: “A gente pode não ficar contente com uma resposta, mas é a resposta que ele tem. Não podemos ouvir a resposta que a gente quer. Ele é nosso convidado. Vamos refletir”. Foi essa reflexão, entretanto, a grande ausente no novo e deontológico Código de Ética.

Em suma, ficou decidido que o jornalista pode trabalhar ao mesmo tempo em redação e como assessor, desde que em áreas diferentes. Por exemplo: não pode ser repórter de esporte e assessor do Palmeiras. Mas tudo bem ser assessor da Petrobrás e repórter de cultura. “Quem é assessor não pode estar em redação. E vice-versa. Se não, há contaminação. Você é assessor de esporte, mas cobre moda. Mas seu coleguinha que cobre esporte está ali, ao seu lado. Lugar de assessor é na assessoria. Em Portugal, quando você vira assessor deixa o jornalismo. Tem que entregar a carteira de jornalista no sindicato. Está fora da profissão”, explica o professor José Marques de Mello, que participou do Congresso como convidado.

Em tese, faz sentido. Mas a realidade do mercado brasileiro não permite que a tese do professor José Marques de Mello seja colocada em prática. “Essa idéia do professor é de um mundo ideal. Mas essa utopia sofre deformações quando encara a realidade. A realidade objetiva é que, especialmente no nordeste, o salário em redação é ínfimo. Mal dá para sobreviver. Isso faz com que o profissional se vire com dois, três empregos. Ser ao mesmo tempo assessor e repórter não é mau caratismo. É questão de sobrevivência. De qualquer forma, risco de promiscuidade existe”, pondera Armando Rollemberg.


Fonte: Revista Imprensa - n° 227, Setembro de 2007

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