Da FolhaOnline
Astro chinês dos filmes de kung-fu, Jet Li chega nesta semana ao Brasil para filmar "Os Mercenários", com Sylvester Stallone. Mas, fora das telas, ele está mais para mocinho.
Jet Li criou a ONG One, que atende vítimas de grandes desastres naturais. Bill Gates doou US$ 2,5 milhões para a ONG do ator.
Ele levou Donatella Versace até as áreas devastadas pelo terremoto na China no ano passado para abrir uma clínica psicológica para crianças com trauma da tragédia.
Com Tony Blair, estrelou na semana passada uma campanha contra o aquecimento global. Embaixador da Cruz Vermelha desde 2006, ele também quer promover o cuidado ao meio ambiente.
Na One, ele pede que cada participante doe por mês uma unidade de moeda --um dólar, um yuan, um euro-- para causas filantrópicas. Já tem um milhão de contribuintes.
"Aprendi em Davos que, para fazer boa filantropia, você deve ser uma mistura de Madre Teresa e Bill Gates, ter coração grande com capacidade de gerenciamento", disse à Folha, antes de embarcar para o Rio.
Bono que se cuide. Agora que o cantor do U2 voltou a se preocupar com a música, Jet Li ameaça lhe tomar o posto de celebridade engajada em maior número de causas do planeta.
Vítima do tsunami
A transformação, segundo ele, começou em um resort nas ilhas Maldivas no final de 2004, onde passava férias com a família. Na manhã de 26 de dezembro, o hotel Four Seasons foi tragado pelo tsunami que varreu a costa asiática.
Ele estava no mar com a a mulher, as duas filhas e a babá. A água começou a puxá-los e Li segurou sua mulher e a filha de quatro anos em um braço e a babá e a filha de um ano em outro. No meio da onda, perdeu de vista a babá e a filha menor.
"Por muitos minutos, eu pensei que tinha perdido minha filha", diz. Um grupo de funcionários e pescadores que estavam na área resgataram a babá e a menina.
"Até então eu só pensava em mim, na minha família, em ser rico e famoso", disse à Folha. "Mas você pode ter dinheiro e ser infeliz", diz.
Jet Li foi dos primeiros astros do país a ir para Sichuan após o terremoto de maio passado que matou 70 mil chineses. Em maio, para marcar o primeiro aniversário da tragédia, Li promove o evento "Uma Família Caminha Unida", onde celebridades percorrerão 15 km das áreas mais devastadas pela tragédia. "A reconstrução da área vai levar uns oito anos."
Brasil violento
Os ideais elevados do ator passam longe de "Os Mercenários", que ele roda no Brasil. O filme, que terá cenas na praia de Mangaratiba e no parque Lage, no Rio, trata de um grupo de mercenários contratados para derrubar um ditador em uma fictícia republiqueta sul-americana.
A brasileira Giselle Itié está no elenco, além de Stallone (que é diretor e roteirista da produção) e do inglês Jason Statham. Jet Li deve ficar duas semanas no Rio nesta sua primeira visita ao Brasil.
"Quero muito jogar futebol ou assistir a um jogo, é o que todo chinês sabe sobre o Brasil", diz. "Mas a produção do filme me pediu que jamais saia para passear sozinho, que é muito inseguro. Não sabia que o Brasil era violento." Ele também diz que quer ver capoeira. "Será que eu aprendo?".
Ao lado de Jackie Chan, Jet Li é considerado o ator mais popular da China --e um herói nacional, desde que se apresentou, aos 11 anos, para o presidente americano Richard Nixon na Casa Branca, em 1974.
A então comunista China começava a se abrir para o mundo e, de brincadeira, Nixon convidou o jovem campeão de wushu (kung-fu) para ser seu segurança. "Quando eu crescer, não quero proteger uma só pessoa, quero proteger 1 bilhão de chineses", disse. Virou orgulho da pátria.
"Entrei para a escola de artes marciais porque, na China dos anos 70, era um dos poucos lugares que havia boa comida, boa roupa e podia viajar pelo mundo", confessou à Folha.
"Estive em 45 países fazendo demonstrações. Se fosse jogador de futebol ou de basquete na China daquela época, não chegaria a lugar nenhum."
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